22/03/2019

Unidos pela separação



Neste mês, completo um ano de separação, depois de 13 de relacionamento e 6 de casados, com uma filha de 2 anos. Precisei desse tempo para finalmente conseguir escrever sobre este assunto – não por tristeza ou ressentimento, e sim porque tive de passar por todas as datas e experiências deste período para saber o que contar. 

E por que falar de separação em um canal cujo principal tema é a maternidade? Porque casamentos acabam, mas famílias não.

Desde o momento em que decidimos nos separar, eu e meu ex-marido tínhamos a mesma prioridade: nossa filha. Conversando bastante e mantendo a terapia de família por algum tempo, ficou claro que queríamos a mesma coisa pela primeira vez em muito tempo: manter um núcleo familiar, mesmo não sendo mais um casal. Continuar como parte de um todo, cuidando da nossa filha com responsabilidade e dividindo ônus e bônus da criação dela.

Meu ex-marido foi um pai incrível desde o primeiro dia, e não consideraria justo nem sensato de minha parte uma divisão de convivência e responsabilidade que não fosse igualitária. Até por ter insistido tanto na imprescindibilidade dos pais, eu não poderia querê-lo como algo diferente de um aliado.

Em nenhum momento direi que é uma dinâmica fácil. Se já nos desentendíamos quando casados, é claro que continuamos tendo momentos de desavença. Porém estas situações só dizem respeito a nós dois. Não envolvemos nossa filha – assim como também não o fazíamos morando na mesma casa.

Recentemente, me deparei com a expressão em inglês "co-parenting". Sem encontrar equivalente em português (se alguém souber, por favor me diga) eu entendo que ela signifique, mais do que ter guarda compartilhada, praticar um regime de "co-criação".

Depois da separação de fato, explicamos as coisas para a nossa filha da maneira mais natural possível, gradualmente, de acordo com a demanda dela. Logo ela entendeu que a mamãe e o papai não namoravam mais e que ela então tinha duas casas. Nunca observamos alterações de comportamento diferente daquelas que toda criança de dois anos vivencia. Inclusive, nesta época, ela iniciou o desfralde sem complicações e por iniciativa própria.

Na escola, não fizemos nenhum alarde ou pedido para que dessem atenção diferenciada a ela. Não queríamos que ela experimentasse o estigma de ser "filha de pais separados" e também, no que diz respeito à educação dela assim como todo o resto, continuamos unidos. O resultado? O ano passou e apenas no momento da renovação da matrícula a escola soube da separação.

De maneira alguma estou tentando sugerir que ser uma mãe separada é fácil, apenas que é possível.

Ser mãe é sempre difícil e ponto. Ter filhos muda a nossa visão da vida, e é uma tarefa que, se estivermos fazendo direito, fica sempre mais desafiadora. Quando decidimos ser pais, assumimos um compromisso velado com os filhos, e como adultos temos que cumpri-lo independente das nossas diferenças.

Afinal, casamento não é assunto de criança, mas pai e mãe sim.

(A foto é uma das últimas em família, no Carnaval.)

Cristina Rodrigues é colunista do site Somos Mães