"Meu filho nasceu sem complicações no parto e depois de uma gravidez tranquila, apesar do pai dele não querer assumir minha gravidez. Sempre tive o apoio dos meus pais que, mesmo separados, sempre foram presentes na minha vida.
Desde os seis meses comecei a notar que meu filho não tinha o mesmo desenvolvimento que os outros bebês da idade dele.
Todo mundo me dizia que meninos são mais lentos mesmo, e que meninas costumam engatinhar mais rápido e etc. Quando ele tinha um ano resolvi levar a um profissional indicado pela pediatra, pois ele ainda não engatinhava. Enquanto a maioria das crianças já começava a andar, ele só ficava sentado ou deitado.
A terapeuta ocupacional disse que, como ele era muito pequeno, não podia afirmar o diagnóstico de autismo, mas iniciamos um tratamento para estimulá-lo a andar. Com essa ajuda, meu filho andou quando completou dois anos.
Foi nessa fase que foi possível realizar alguns exames neurológicos para descartar problemas dessa natureza. Após algumas consultas, veio o diagnóstico: meu filho é autista.
Mil coisas se passaram na minha cabeça e meu coração já imaginou cenas de bullying, a reação da família, os tratamentos... Chorei muito naquela noite, mas compreendi que eu teria que ser forte por nós dois, para ajudá-lo, protegê-lo do preconceito e, acima de tudo, para poder oferecer a melhor educação possível.
Meus pais aceitaram a situação melhor do que eu esperava e pude contar com o apoio deles para que eu pudesse trabalhar fora enquanto tentava encontrar uma escola. Infelizmente, foram longos dias procurando sem sucesso. Apesar da inclusão ser lei, as escolas inventam desculpas para não aceitar crianças especiais.
Meu filho tem 4 anos e ainda não encontrei escola para ele. Ele frequenta um grupo de terapia ocupacional que tem ajudado muito em seu desenvolvimento. A fala é a parte mais comprometida. Ele "fala" com gestos e fica nervoso quando não entendemos.
Passear com ele exige muita paciência, pois quase sempre ele fica muito agitado e as pessoas ao redor olham diferente para nós.
A cada dia tenho que aprender um jeito novo para convivermos melhor. Não fica fácil com o passar o tempo. Eu é que vou aprendendo mais rápido e melhor a lidar com nossas dificuldades.
Sempre digo que é difícil para ele e para todos nós da família, mas nós temos condições de entender, ele não.
Amo meu filho e não saberia viver sem ele. Ele me ensina um ritmo diferente, um olhar diferente sobre as coisas, uma vida com menos padrões.
Não vou dizer que é fácil. Mas é lindo."
Ana Lúcia Paiva, 28 anos, mãe do Otávio.