20/01/2017

Minha decisão de ser mãe foi só minha


"Minha história começa quando tomei a decisão de ser mãe.  Sempre tive muita afinidade com crianças, mas a minha vontade de ser mãe surgiu por volta dos 25 anos, quando eu já tinha certeza de que eu queria ser mãe.

Eu tinha uma parceira e começamos a conversar sobre como faríamos para ter filhos. Assim surgiu a ideia de fazer uma fertilização in vitro. Nessa época, com 25 anos, comecei a pesquisar sobre isso, também comecei a quebrar alguns mitos dentro de mim, dentro do que eu achava certo e errado, comecei a ver preço e entender melhor todo esse processo. Muita coisa aconteceu e esse meu "projeto" foi adiado. Somente agora, aos 32 anos de idade, é que de fato decidi realizá-lo, pois tenho uma situação estável financeiramente e na família. Tenho um relacionamento de cinco anos, mas a decisão de ser mãe foi única e exclusivamente minha, não foi uma decisão da minha parceira, nem com a participação dela. Então, independente do que ela decidisse, eu já estava com isso definido, eu queria ser mãe, sim. Fui buscar os melhores médicos, as melhores clínicas, fui me informando sobre todo o procedimento da FIV. Como eu sou da área da saúde, tive bastante facilidade em ter essas informações e acabei escolhendo uma clínica por indicação de uma amiga.
A fertilização mexeu muito com a minha cabeça, tomei muito hormônio, e fui ficando bem saturada dos remédios. Isso mudou bastante meus aspectos físicos e emocionais. Eu fiquei bastante diferente e abalada por conta dessas alterações hormonais, que pra mim tiveram bastante impacto. Em dezembro eu fiz a retirada dos óvulos e a inseminação. Depois de um mês fiz o primeiro teste de gravidez e deu que tinha evoluído dois óvulos, os dois que tinha fertilizado estavam se dividindo e progredindo
conforme o cronograma e aí eu fiquei grávida de gêmeos.

Foi hora de contar para a família e amigos. Nessa fase tive apoio, mas também muitas críticas, inclusive de quem eu menos esperava. Foi muito triste ouvir que eu estava sendo louca, que meus filhos não teriam o nome de um pai na certidão de nascimento, etc. Não acreditava no que ouvia, afinal, muitos pais registram seus filhos e são completamente ausentes! Me julgaram sem me perguntar se eu estava feliz. Uma crítica em particular me magoou muito, fiquei perdida, sem chão. Mas, decisão é decisão e eu estava certa da minha escolha.
Quando eu estava com mais ou menos quinze semanas, fiquei sabendo que era um casal e aí foi aquela felicidade. Já estava feliz por conseguir ficar grávida na primeira tentativa e depois por estar grávida de gêmeos e um casal, que hoje é a Ana Luiza e o Luís Miguel. O Luís Miguel partiu, no nascimento descobrimos que ele já tinha falecido há pelo menos 24 horas, foi a parte dura da minha gestação, porque a gente vai para o final hiper-feliz com duas crianças, tudo preparado para duas crianças, e o dia do nascimento foi um dia de luto e de felicidade, porque eu vivi os dois sentimentos ao mesmo tempo. É difícil falar disso ainda, porque eles foram muito desejados, eles são muito desejados, eu queria muito essa gravidez, queria muito essas duas crianças, a gente se preparou para tê-las, para recebê-los, então foi uma parte difícil. Mas minha filhota está a í, supersaudável, super de bem, ela traz muita felicidade para nossa família, eu tô muito feliz por ter essa oportunidade de ser mãe, muito realizada, se eu soubesse que era tão bom assim, eu tinha feito aos 25 anos para poder viver mais tempo ao lado deles, porque realmente foi e está sendo muito bom e todo dia aprendendo um pouquinho mais.

Agora já estou na fase de adaptação para voltar ao trabalho, que é bem difícil, falta um mês para eu voltar e já está sendo dolorido. A adaptação de alimentação ainda não, a adaptação de eu conseguir deixá-la um pouquinho em casa com a minha mãe, que é quem vai ficar cuidando dela. Eu consigo ficar três, quatro horas fora de casa e estou observando como elas estão interagindo e até as mamadas estou prolongando mais, no máximo de quatro horas, para ela ir se adaptando. E quando faltar quinze dias para eu voltar ao trabalho, começamos o processo de adaptação alimentar, vamos começar a introdução de frutas, para um horário só do dia, então substituirá uma única mamada, as outras eu vou fazer a retirada do leite, vou congelar e a gente vai fazendo esse controle pra ela ir se adequando.

Faria tudo de novo, exatamente igual, talvez fizesse antes se soubesse o quanto é bom. A opinião dos outros é a opinião dos outros, às vezes magoa, principalmente quando estamos mais sensíveis, mas passa.

Pessoas que me criticaram hoje são apaixonadas pela minha filha, fico feliz por isso. O importante é viver esse amor todo. Ser mãe é maravilhoso."


Ellen Bastos

*Esse depoimento encontra-se no capítulo "O julgamento nosso de cada dia" do nosso primeiro livro. Leia outros depoimentos, bem como textos de profissionais convidados adquirindo o livro através do link: http://bit.ly/2gbmuNY

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