15/06/2018

Amamentação depois da UTI neonatal


Amamentar não é fácil. E quando, depois que o bebê já consegue mamar, ele precisa passar por uma UTI? Como retomar o processo da amamentação? Conheça a linda história da Gabriela e do seu filho Bernardo.

Olá, queridas!

Hoje eu queria compartilhar com vocês esta foto, que é um marco em minha história enquanto mãe. Bernardo com 15 dias de vida ficou internado na UTI NEO por longos 10 dias, vítima de bronquiolite.

Nós, que ainda estávamos nos conhecendo, fomos bruscamente afastados, devendo obedecer somente a alguns horários permitidos nas visitas da UTI. Nós, que ainda estávamos adaptando a amamentação, fomos bruscamente desligados. Do nosso cheiro, do estímulo da sucção, do alimento.

Foi colocado sonda para ele se alimentar, mamadeira com fórmula e chupeta tempo integral (apesar de eu não gostar nem um pouco dessas atitudes tomadas pelos profissionais do hospital, não tinha empoderamento nenhum naquela época e sequer consegui questioná-los).

Um dia após a internação meus peitos, que antes jorravam leite tempo integral, estavam murchos.
O pediatra liberou a oferta de LM pela sonda nos horários em que eu ali estivesse, e eu deveria ordenhar ao lado daquela incubadora onde meu pequenino lutava para viver.

Eu chorei. Chorei porque eu não sabia ordenhar. Chorei porque meu peito "não tinha leite". Eu me senti um fracasso.

Até que uma das únicas profissionais 'humanas' daquele lugar me viu em desespero e me permitiu pegar meu filho no colo, após 4 dias sem nos tocarmos, e oferecer o peito pra ele.

Meu esposo registrou esse momento. Eu lembro de pegá-lo no colo como se aquela fosse nossa primeira vez. Mesmo em meio a uma super confusão de bicos, de fluxo e tudo mais, ele conseguiu abocanhar o peito. Eu segurava para ajeitar da melhor forma para que ele conseguisse se alimentar.
Eu sinto que, por muito pouco, nossa história nessa ainda curta caminhada da amamentação não teve um fim triste. 

Hoje faz um ano que esta foto foi tirada, e nós caminhamos para os 13 meses de leite Materno em livre demanda. Eu sei que nem todos os dias são fáceis, muito pelo contrário. 

Nos dias bons, amamentar é eterno.

Nos dias ruins, amamentar é necessário. Seguimos um dia de cada vez.

Obrigada, queridas, por todo o conhecimento partilhado neste grupo!


Gabriela Fontenele Jovanini, mãe do Bernardo.

Gabriela nos autorizou a publicar esse depoimento que foi primeiramente escrito para o grupo Matrice no Facebook. O Grupo Matrice é um grupo de apoio a amamentação.





06/04/2018

Pós operatório tranquilo graças a amamentação

Que a amamentação em livre demanda é o melhor para a saúde dos bebês ninguém tem dúvidas. Entretanto, parece que sempre precisamos reforçar essa verdade com experiências vividas por mães que dividem conosco suas histórias.

Conheça o depoimento da Laura e do seu filho Vicente, que precisou de uma cirurgia aos dois meses de idade:

Meu filho, o Vicente, um bebê de dois meses de idade, teve que fazer uma cirurgia de hérnia inguinal. Com a necessidade da cirurgia, vieram várias preocupações, dentre elas a preocupação com ele ficar calmo e não sofrer com o jejum, ausência da mãe, viagens de carro, etc. E surgiu a sugestão da chupeta, vinda de vááárias pessoas.

Pra evitar que o bebê viajasse em jejum dormimos em Joinville um dia antes, a última mamada dele seria às 2:30 da manhã. Eu estava me perguntando milhares de coisas: e se ele procurasse o mamá à 1:00 será que eu tentaria enrolar até as 2:30? Se às 2:30 ele estivesse muito sonolento e eu tentasse acordar será que ele não iria se irritar mais e ficar pendurado no peito muito tempo? 


Para minha surpresa meu bebê começou a se mexer e espreguiçar às 2:27, três minutos antes do despertador (parece que eles entendem, né?). Fiz aquela mamada cheia de cóceguinhas no pé pra ficar acordado e com técnica de compressão da mama pra entrar bastante leite. Ele dormiu, mas às 4 da manhã já tava me procurando de novo (a cirurgia seria só às 7). Coloquei no sling e comecei a andar pelo quarto, ele acalmou, dormiu. Internamos no hospital às 6 e pouco.

Chegando no centro cirúrgico ele acordou e a primeira pergunta da enfermeira foi "vc trouxe o bico dele?". Quando disse que ele não tinha bico, ela perguntou se eu queria um bico de luva (uma chupeta improvisada que fazem em hospitais). Quando disse que não precisava ela perguntou "ele não pegou chupeta?". Respondi que eu nunca quis dar, nunca precisamos por que ele tem peito a hora que quer. Ela ficou quieta, só observando. Detalhe que o Vicente nem tava chorando. Ele tava rindo e conversando com gritinhos fofos de bebê! A enfermeira parecia querer que ele ficasse quieto, foi muito desagradável.


O cirurgião atrasou e começamos a ficar impacientes e famintos (eu e ele). Os gritinhos felizes começaram a virar resmungos, aí distrai, caminha, passeia, troca a posição no colo, mostra brinquedo, conversa... e quando a coisa ia descambar e deu a primeira choradinha o médico chegou!‍⚕️Entrou na sala de cirurgia 7:30 sem chorar. Tudo correu bem. A cirurgia acabou às 8:30.


No pós operatório ele demorou umas 2 horas pra acordar, fizeram uma glicemia (pra ver os níveis de açúcar no sangue e ver se era por isso a sonolência), deu 103 (ótimo valor).Isso ele estava há 8 horas sem mamar! E perguntei se tinha recebido alguma glicose na veia ou coisa assim e me falaram que não! Eita leite forte!


Mal acordou e já liberaram o peito🤱. Foi o primeiro da recuperação anestésica a comer. As outras crianças (média de um e dois anos de idade), todas desmamadas, tiveram que esperar estar bem acordadas (entenda-se berrado e chorando) para poder tomar a "dedera", pois a coordenação da deglutição quando a criança mama no peito é mais fácil, dá pra liberar mesmo quando tá meio dormindo.


Ao lado tinha uma criança mais velha, de uns 4 anos, que fez a mesma cirurgia que o meu filho, mas estava usando máscara de oxigênio. O anestesista veio conversar e disse "A via aérea do seu filho obstrui muito fácil, por isso está precisando de oxigênio até acordar bem. Leve ele a um otorrino, pois possivelmente ele ronca a noite, ou respira mal. Ele usou chupeta muito tempo?". O pai olhou pra baixo e disse que sim, envergonhado. A anestesista reforçou que provavelmente por usar a chupeta ele tinha problemas na musculatura orofacial.


Uma outra criança recusou a mamadeira que o hospital mandou pois não era igual a dele. Ele começou a ficar inquieto e chorar de fome. A mãe ligou para o pai e o pai comprou uma mamadeira nova na farmácia, igual a que ele tinha em casa e levou para o hospital. Ele também recusou. Queria a "dedi" dele em casa. Se apegou tanto àquele objeto de plástico, àquela mãe substituta, àquele bico artificial, que chorou de fome por horas seguidas até dormir, mas não mamou e nem comeu.


As outras duas crianças choraram de impaciência, pois quando finalmente foi liberada a dieta, a enfermeira ainda precisou ligar para a cozinha, pra prepararem a mamadeira ou refeição, pra levarem até a sala de recuperação, pra aí, sim, eles comerem.


Pela tarde fomos pra enfermaria e ele mamou mais frequente, acho que pela dor. Por duas vezes mamou até vomitar, aí quando mamou de novo acho que só vinha o leite gordo, e por estar meio bêbado de leite, logo dormia. As duas vezes que foram dar medicação para dor eu recusei, pois ele estava dormindo tranquilo.


Meu filho foi a criança que mais se comunicou com outros, sorriu, conversou e deu gritinhos. Foi a criança que MENOS CHOROU. Foi o primeiro a comer. Não teve hipoglicemia. Não precisou de oxigênio. Não precisou de NENHUMA mediação analgésica no pós operatório. Recebeu alta no mesmo dia pela sua ótima recuperação.


Todas as necessidades dele ele saciou no peito! E eu só confirmei o que meu coração já sabia: estamos no caminho certo! Seguiremos com tetêzinho em livre demanda e sem bicos!


Laura Zimmermann nos autorizou a publicar esse depoimento que foi primeiramente escrito para o grupo Matrice no Facebook. O Grupo Matrice é um grupo de apoio a amamentação.

09/02/2018

Meu filho é autista


"Meu filho nasceu sem complicações no parto e depois de uma gravidez tranquila, apesar do pai dele não querer assumir minha gravidez. Sempre tive o apoio dos meus pais que, mesmo separados, sempre foram presentes na minha vida.
Desde os seis meses comecei a notar que meu filho não tinha o mesmo desenvolvimento que os outros bebês da idade dele. 
Todo mundo me dizia que meninos são mais lentos mesmo, e que meninas costumam engatinhar mais rápido e etc. Quando ele tinha um ano resolvi levar a um profissional indicado pela pediatra, pois ele ainda não engatinhava. Enquanto a maioria das crianças já começava a andar, ele só ficava sentado ou deitado. 
A terapeuta ocupacional disse que, como ele era muito pequeno, não podia afirmar o diagnóstico de autismo, mas iniciamos um tratamento para estimulá-lo a andar. Com essa ajuda, meu filho andou quando completou dois anos.
Foi nessa fase que foi possível realizar alguns exames neurológicos para descartar problemas dessa natureza. Após algumas consultas, veio o diagnóstico: meu filho é autista.
Mil coisas se passaram na minha cabeça e meu coração já imaginou cenas de bullying, a reação da família, os tratamentos... Chorei muito naquela noite, mas compreendi que eu teria que ser forte por nós dois, para ajudá-lo, protegê-lo do preconceito e, acima de tudo, para poder oferecer a melhor educação possível. 
Meus pais aceitaram a situação melhor do que eu esperava e pude contar com o apoio deles para que eu pudesse trabalhar fora enquanto tentava encontrar uma escola. Infelizmente, foram longos dias procurando sem sucesso. Apesar da inclusão ser lei, as escolas inventam desculpas para não aceitar crianças especiais.
Meu filho tem 4 anos e ainda não encontrei escola para ele. Ele frequenta um grupo de terapia ocupacional que tem ajudado muito em seu desenvolvimento. A fala é a parte mais comprometida. Ele "fala" com gestos e fica nervoso quando não entendemos.
Passear com ele exige muita paciência, pois quase sempre ele fica muito agitado e as pessoas ao redor olham diferente para nós. 
A cada dia tenho que aprender um jeito novo para convivermos melhor. Não fica fácil com o passar o tempo. Eu é que vou aprendendo mais rápido e melhor a lidar com nossas dificuldades.
Sempre digo que é difícil para ele e para todos nós da família, mas nós temos condições de entender, ele não.
Amo meu filho e não saberia viver sem ele. Ele me ensina um ritmo diferente, um olhar diferente sobre as coisas, uma vida com menos padrões. 
Não vou dizer que é fácil. Mas é lindo."
Ana Lúcia Paiva, 28 anos, mãe do Otávio.