16/02/2016

Trechos do cotidiano emocional de mães e filhos

Eu converso com muitas mães todos os dias. Seja por WhatsApp, seja pela fan page do Somos Mães, pelo grupo fechado no Facebook, pessoalmente, por e-mail, por telefone. Conheço muitas histórias de mães, filhas, grávidas e esposas.

Um mundo de mulheres que se esforça para ser feliz, que nem sempre acerta, mas está sempre tentando. É comum ouvir/ler relatos de dor, ausência, dúvida, insegurança. Mas é sempre muito lindo ver o amor que delas brotou com o nascimento de seus filhos. Muitas viraram do avesso, assim como eu, e descobriram, assim como eu, que o avesso era o lado certo delas. Entretanto, como a maternidade não acontece com um manual pronto e definitivo, muitas sofrem, cada uma de um jeito, cada uma com uma intensidade.


Vou contar pra vocês alguns trechos de histórias de vida que conheci e que me emocionaram demais. Não mencionarei o nome das mulheres, algumas conhecidas, outras não, para preservar o coração delas de qualquer julgamento. 

Sinto que falta a todas nós, mulheres, tomar posse das nossas prioridades e criar coragem para dizer "não" a uma sociedade fria e inóspita, questionar, expor verdadeiramente nossas vontades. Principalmente no puerpério, quando estamos absurdamente sensíveis, quando a força para algumas decisões se esvaece para dar espaço para a extraordinária força de cuidar e amar o serzinho frágil que acabamos de parir, precisamos, sim, de apoio e de pessoas dispostas a nos acolher e nos proporcionar condições de nos dedicar aos nossos bebês.

Me impressiona que os maiores buracos emocionais desses breves depoimentos tenham sido provocados pelas pessoas que deveriam ser as mais presentes e carinhosas: a própria mãe e o marido. Justamente as pessoas com as quais deveríamos ter a máxima liberdade para conversar sobre tudo o que sentimos, sem medo, ou até sem nem mesmo ter certeza de nada. Isso reforça a frase que li recentemente de que “as coisas mais importantes são as mais difíceis de serem ditas”. 

Leiam abaixo, sei que irão se emocionar também. E se rolar uma identificação ficarei feliz. É sempre muito bom saber que não estamos sozinhas na dor.

“Meu filho estava com 30 dias de nascido quando engravidei novamente. Lembro da cara da minha mãe quando contei, foi um espanto homérico. Nem eu mesma acreditava. Sexo era a última coisa que eu queria desde que meu filho nascera, não sei nem como aconteceu. Estou feliz com a gravidez, mas sempre choro quando lembro que consenti com algo que não queria.”

“Eu tinha 7 anos, mais ou menos. Meus pais tinham se separado e minha mãe era bastante jovem. Ela saía de vez em quando e eu sempre chorava quando isso acontecia. Lembro de um sábado à noite em que ela se arrumava e eu chorava pedindo pra ela ficar em casa. A amiga com quem ela iria sair chegou e, me vendo chorar, veio conversar comigo. Ela me disse: 'sua mãe trabalha a semana inteira, precisa sair, se distrair. Ela te ama, você precisa entender'. Hoje sei que esperava um discurso totalmente contrário a esse. Gostaria de ter ouvido: 'você tem razão, sua mãe trabalha a semana inteira e te ama, portanto deveria ficar em casa com você. Você é uma criança, não pode entender agora, quem precisa entender é ela'. Nunca mais, a partir dessa noite, chorei pedindo a atenção e a companhia da minha mãe. Encontrei com o tempo o ponto fraco dela e usei isso por muitos anos para chamar sua atenção. Pena que foi sempre tudo muito doloroso.”

“Amo meu filho com todo o meu coração, mas tive uma gestação difícil, sofri os 9 meses. Por isso digo que não gostei de estar grávida, apesar de ser muito feliz com meu bebê. Fui muito criticada por dizer isso, mas o pior foi ouvir de alguém próximo que 'na hora de fazer foi gostoso'. Cortei essa pessoa da minha vida.”

“Meu marido trabalha 7 dias da semana. Durante minha licença maternidade ouvia sempre ele dizer: 'já que você fica em casa o dia inteiro sem fazer nada, vá ao banco, vá ao supermercado, vá fazer isso, vá fazer aquilo'. Meu casamento quase acabou. Pedi ajuda no grupo e, depois de ler todas as sugestões, resolvi conversar com ele. Pedi pra ele ficar um dia inteiro em casa comigo para ver se eu ficava mesmo 'sem fazer nada'. Ele chorou, não tinha ideia do que era minha rotina.”

“Meu sonho era ser mãe. Sofri três abortos espontâneos. Tive endometriose, operei 3 vezes. Tiraram meu útero. Sofro todos os dias por isso. E ainda me julgam, alguns com palavras, outros com olhares, com a tal pergunta 'por que você não adota?'.”

“Eu só queria que uma vizinha me convidasse para almoçar de vez em quando. Eu não tinha tempo para cozinhar nada pra mim e estava sempre muito cansada e sem comer nada.”

“Uma vez, quando minha filha ainda não tinha completado um mês, minha mãe saiu enquanto eu amamentava no sofá. Era final de tarde e ela esqueceu de deixar a luz acesa e um copo d'água perto de mim. Quando meu marido chegou, quase 8 da noite, eu estava no escuro, morrendo de sede e de vontade de fazer xixi. Senti muita solidão, muita vontade de chorar.”

“Meu casamento estava por um fio, meu marido propôs uma viagem só nós dois. Meu filho de 1 ano ficou com minha mãe. Chorei escondida a viagem inteira, não queria ter ido, mas também queria recuperar meu casamento. Por que para o homem é tão difícil entender?”

“Quando eu tinha 12 anos minha mãe namorava um homem casado. Ela me fazia chamá-lo de pai, me forçava a beijá-lo. Até hoje tenho nojo de homens casados que se insinuam para as outras mulheres. Quero ter filhos, mas não sei se quero casar.”

“Meu bebê tem 3 meses. Peguei o celular do meu namorado e vi que ele chega de madrugada em casa porque fica com outras mulheres na balada. Como faço para recuperá-lo?” 

Essa última mensagem me deu vontade de escrever em letras garrafais: “cuide do seu filho e de você, esqueça esse homem”.

Acácia Lima é idealizadora da plataforma Somos Mães de Primeira Viagem e mãe da Mariana, de 1 ano e meio.

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