14/07/2016

Não queria engravidar, mas a maternidade me mudou

A Ana, mamãe do Dudu, compartilhou com a gente como foi engravidar sem querer e as dificuldades da gestação e maternidade e, também, o amor envolvido.

"Por todos os motivos egoístas, a maternidade nunca foi um sonho pra mim. Nunca quis.Eu queria estudar, viajar, sair, ser livre. Eu via a maternidade como uma prisão. Então, meu marido e eu estávamos acertados que não teríamos filhos e sempre que alguém perguntasse, nos deveríamos desconversar.

Um dia, comecei a sentir meu corpo meio estranho: seios doloridos e um cansaço incomum. Lembrei que eu deveria ter ficado menstruada alguns dias atrás, ou semanas, porque também nunca marquei essas datas.

Num sábado, dia 9 de maio de 2015, um dia antes do Dia das Mães, fiz o primeiro teste de gravidez da minha vida e deu positivo.Fiquei muito nervosa, chorei porque eu não queria aquilo. Eu queria viajar e um filho ia atrapalhar isso. Meu Deus, como a gente muda, em algumas semanas eu estaria apaixonada por aquele ser que eu nem conhecia.



Durante toda a gravidez sofri muito, sofri com dores, inchaço, formigamento nas mãos, mal estar, depressão, um cansaço e uma fadiga absurdos. Não tinha vontade de fazer nada. Apenas chorar. Eu só queria chorar. 

Havia também o agravante de eu ter engravidado 30 quilos acima do peso. Isso contribuiu muito para o mal estar constante que eu sentia.

E toda vez que eu me queixava, alguém dizia que eu tinha que aguentar pelo meu filho, que eu tinha que aceitar meu filho. Isso foi o mais insuportável da gravidez: o julgamento eterno das outras mães, como se elas nunca tivessem sido mães de primeira viagem. Todas essas julgadoras já nasceram com vários filhos e experiências da maternidade nas costas.

Eu amava meu filho. Estava feliz que ele estava a caminho. E meu sofrimento, minhas dores, minha vontade constante de chorar nada tinham a ver com ele. Não era por causa dele que eu chorava e me sentia mal, era a gravidez. Mas as outras mães não entendiam isso. No final da gestação, eu estava tao inchada que estava toda deformada.

Um outro motivo que me deixou "chateada" quando me vi grávida é que minha irmã, a pessoa que eu sempre mais amei no mundo, tentava ficar grávida há alguns anos e não conseguia. E eu pensava: "como pode, ela querer tanto e não conseguir e eu agora assim?". Mas três semanas depois que descobri minha gravidez, ela me ligou dizendo que estava grávida. Foi a coisa mais linda do mundo passar por tudo isso juntinho dela. Meu Dudu nasceu dia 21/12 e minha Clarice dia 22/01.

No dia 21 de dezembro de 2015 ele nasceu de cesariana. Achei o parto doloridíssimo, o que guardei segredo pra muitas pessoas, porque algumas parecem até que querem que a mãe de cesárea sofra mais.

Ele nasceu com água no pulmão, aquele bebe mais lindo do mundo, e ficou cinco dias na UTI.

Então fomos pra casa e tudo começou: Dudu, depois de 15 dias, começou a chorar dia e noite. Dia e noite. E a pediatra dizia que bebês choram.
Eu e meu marido ficávamos, às vezes, até 3 horas durante a madrugada tentando consolá-lo e nada, ele não dormia, só chorava.

Eu, que nunca tinha segurado um bebê no colo na vida, me vi com um que era minha total responsabilidade e que, por três meses, só chorava.
Quantas vezes meu marido chegava do trabalho e encontrava nós dois, Dudu e eu, chorando. Hoje ele me diz que naquele tempo pensava: "e agora, qual dos dois eu socorro primeiro?".

Quando meu marido saia pra trabalhar eu já ficava tensa. Eu não sentia prazer em ficar perto do meu bebê, foi isso que eu disse pra pediatra na nossa terceira consulta, pedi pra ela me ajudar e que se ela não me ajudasse eu ia mudar de pediatra. Meu bebê estava sofrendo e, consequentemente, toda a família.

Hoje eu consigo falar sobre isso, mas sofri em silêncio muito tempo, justamente por causa das julgadoras de plantão, aquelas que tentam fazer a gente se sentir mal. Como já falei anteriormente, existe uma visão romantizada da maternidade que não é verdade. É muito difícil. É extremamente cansativo. Tem dias que você quer sumir.

Mas voltando a pediatra, ela sugeriu remédios para refluxo que começariam a fazer efeito em pelo menos uma semana. Eduardo tomou o remédio e naquele mesmo dia parou de chorar. Descobrimos! Foi muito bom saber o que causava tanto mal pro nosso bebezinho.

Hoje meu filho já vai fazer sete meses, esbanja saúde e eu sou a mulher mais feliz do mundo! Ser mãe é a maior alegria da minha vida. Eu, como toda mamãe, sou a mulher mais feliz do mundo! Meu filho é o maior presente que eu ganhei. Eu agradeço todos os dias por ele. E peço pela sua saúde e proteção.

Outro dia me disseram: "nossa, como bebês são dependentes, como eles precisam da mãe". Eu logo respondi: "eu preciso muito mais dele do que ele de mim"."

Ana é mãe de primeira viagem do Eduardo.

*Esse depoimento encontra-se no capítulo "A ma/paternidade é transformadora" do nosso primeiro livro. Leia outros depoimentos, bem como textos de profissionais convidados adquirindo o livro através do link: http://bit.ly/2gbmuNY

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