12/01/2017

Julgadores de plantão


"Confesso que sempre reparei na reação de algumas mães por aí. Pensava: “Quando eu tiver meu filho vai ser diferente: ele não fará birras, ele vai se comportar bem porque eu vou saber educá-lo para isso.
Porém, quando meu filho nasceu tudo foi diferente. Passei de juíza a réu. Ser mãe parece uma tarefa muito fácil para quem não está dentro da situação. Nem sempre a reação de uma mãe agrada a todos e, mesmo sem saber o real motivo daquela situação, as pessoas tendem a tirar conclusões precipitadas ou intrometer-se onde não convém. Certa vez meu filho teve um episódio de constipação intestinal e fomos ao hospital. Por esperar muito tempo em jejum para realização de um exame, meu filho começou a pedir comida.

- Mãe, me dá pastel? Mãe, me dá chocolate?

A enfermeira me questionou se ele só comia isso, pois não podia, afinal aquele problema que estávamos enfrentando no momento era de má alimentação. Respondi que não, que ele comia outras coisas sim, que aquele episódio foi algo isolado e que ele pede coisas gostosas por ser criança, ele ainda não sabe o que é ou não saudável, ele tem apenas 2 anos de idade.



Outra situação bem chata foi quando eu estava em um estacionamento aguardando o manobrista trazer meu carro. Eu me sentei em um banco, ao lado de uma senhora. Meu filho, envergonhado por causa da senhora, não quis sentar-se. Ele levantou e se afastou um pouco. Eu o chamei para perto de mim e ele gritou: - Vem aqui você! Levantei-me, não para obedecê-lo, mas para tentar trazê-lo para perto de mim, mas a senhora que estava do meu lado me segurou pelo braço e disse: - Não faça as vontades dele!

Achei bem desagradável, nos dois episódios me senti invadida por opiniões que não pedi e que só serviram para eu me achar uma má mãe. Toda mãe precisa ser compreendida antes de ser julgada.

Não existe uma receita perfeita para criarmos nossas crianças. Temos apenas que ter a convicção de que estamos fazendo o melhor para elas dentro do nosso próprio conceito de “mãe perfeita” e despistar os julgadores de plantão." 

Ercilia Sales

*Esse depoimento encontra-se no capítulo "O julgamento nosso de cada dia" do nosso primeiro livro. Leia outros depoimentos, bem como textos de profissionais convidados adquirindo o livro através do link: http://bit.ly/2gbmuNY

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